Roger Chartier nasceu em Lyon, na França, em 1945. Desde jovem tem se dedicado a pesquisas e projetos coletivos na direção de novas abordagens e de novos objetos para a história, fazendo parte da terceira geração do grupo de pesquisadores conhecido como Escola dos Analles. Sua trajetória intelectual abrange várias linhas de pesquisa: uma primeira linha seria a história das instituições de ensino e das sociabilidades intelectuais; uma segunda linha de pesquisa, que perpassa o conjunto de sua obra, é constituída pela história do livro e das práticas de escrita e de leitura; uma terceira linha de pesquisa seria a análise e o debate entre política, cultura e cultura popular; uma outra linha ainda pode ser derivada de suas reflexões sobre o ofício de historiador, expressas em suas publicações e em suas atividades como divulgador de uma nova história. Diretor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris,e professor especializado em história das práticas culturais e história da leitura, Roger Chartier é um dos mais conhecidos historiadores da atualidade, com obras publicadas em vários países do mundo. Sua reflexão teórica inovadora abriu novas possibilidades para os estudos em história cultural e estimula a permanente renovação nas maneiras de ler e fazer a história. Chartier foi professor nas universidades Princeton, Montreal, Yale, Cornell, John Hopkins, Chicago, Pensilvânia, Berkeley.Roger Chartier escreveu muitas obras. Referenciamos aqui só as publicadas no Brasil: História da vida privada: da Renascença ao Século das Luzes; Cultura escrita, literatura e história; Formas do sentido - Cultura escrita: entre distinção e apropriação; Os desafios da escrita; A aventura do livro; À beira da falésia; Do Palco à Página; A ordem dos livros; História da leitura no mundo ocidental; Práticas da leitura; O poder das bibliotecas: a memória dos livros no Ocidente; e Leituras e leitores na França do Antigo Regime.
Sobre a obra:
Em sua obra “A História Cultural: Entre Práticas e Representações”, composta por oito ensaios publicados entre 1982 e 1986, Chartier evidencia que, nos anos de 1950 e 60, os historiadores buscavam uma forma de saber controlado, apoiado sobre técnicas de investigação, de medidas estatísticas, conceitos teóricos dentre outros. Esses historiadores acreditavam que o saber inerente à história devia se sobrepor à narrativa, por acharem que o mundo da narrativa era o mundo da ficção, do imaginário, da fábula. Contudo a tendência hegemônica da historiografia atual propõe uma nova forma de interrogar a realidade, toma como base temas do domínio da cultura e salienta o papel das representações. A História Cultural, esclarece Chartier, éimportante para identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma realidade social éconstruída, pensada, dada a ler. Portanto, ao voltar-se para a vida social, esse campo pode tomar por objeto as formas e os motivos das suas representações e pensá-las como análise do trabalho de representação das classificações e das exclusões que constituem as configurações sociais e conceituais de um tempo ou de um espaço. No entanto, a História Cultural deve ser entendida como o estudo dos processos com os quais se constrói um sentido, uma vez que as representações podem ser pensadas como “[...] esquemas intelectuais, que criam as figuras graças às quais o presente pode adquirir sentido, o outro tornar-se inteligível e o espaço ser decifrado” (CHARTIER, 1990,p.17). Como se vê, os processos estabelecidos a partir da História Cultural envolvem a relação que se estabelece entre a história dos textos, a história dos livros e a história da leitura, permitindo a Chartier uma fértil reflexão a respeito da natureza da História como discurso acerca da realidade e ainda de como o historiador exerce o seu ofício para compreender tal realidade. Podemos perceber que a obra de Chartier se destaca por impor o trato de problemas conceituais como representação, prática e apropriação. A partir deles, o autor considera questões como as formas narrativas do discurso histórico e literário, fundamentais à interpretação dos documentos que o historiador toma por objeto. Entendemos que para compreender melhor esses conceitos é fundamental conhecer as idéias de historiadores como, por exemplo, Pierre Bordieu, Michel de Certeau, Michel Foucault e Paul Ricoeur, influenciados pela Escola dos Analles, como também as idéias de alguns autores influenciados pela Escola de Frankfurt, como Gadamer, Geertz, Habermas, Jauss e Norbert Elias. Para Roger Chartier, um autor pode ser lido e entendido quando se leva em consideração o contexto no qual o seu trabalho foi produzido, por isso pensar, portanto, os processos de civilização nos possibilitam ir do discurso ao fato, questionando a idéia de fonte como mero instrumento de mediação e testemunho de uma realidade e considerando as representações como realidade de múltiplos sentidos, mesmo porque as representações do mundo social, assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Chartier acredita que há algo específico no discurso histórico, pois este é construído a partir de técnicas específicas. Pode ser uma história de eventos políticos ou a descrição de uma sociedade ou uma prática de história cultural. Para produzi-la, o historiador deve ler os documentos, organizar suas fontes, manejar técnicas de análise, utilizar critérios de prova. Portanto, se é preciso adotar essas técnicas em particular, é porque há uma intenção diferente no fazer história, que é restabelecer a verdade entre o relato e o que é o objeto deste relato. O historiador hoje precisa achar uma forma de atender a essa exigência de cientificidade que supõe o aprendizado da técnica, a busca de provas particulares, sabendo que, seja qual for a sua forma de escrita, esta pertencerá sempre à categoria dos relatos, da narrativa. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem as utiliza (CHARTIER, 1990, p.16). Um texto pode aplicar-se à situação do leitor e, como configuração narrativa, pode corresponder a uma refiguração da própria experiência. Por isso, entre o texto e o sujeito que lê, coloca-se uma teoria da leitura capaz de compreender a apropriação dos discursos, a maneira como estes afetam o leitor e o conduzem a uma nova forma de compreensão de si próprio e do mundo. O autor esclarece que os agenciamentos discursivos e as categorias que os fundam – como os sistemas de classificação, os critérios de recorte, os modos de representações – não se reduzem absolutamente às idéias que enunciam ou aos temas que contêm, mas possuem sua lógica própria – e uma lógica que pode muito bem ser contraditória, em seus efeitos, como letra da mensagem (CHARTIER, 1990, p.187).As contribuições que Chartier incorporou aos seus estudos são grandes e diversas. Podemos citar as categorias como habitus, tomada da obra de Pierre Bordieu; configuração e processo, apanhadas em Norbert Elias; representação, apreendida com Louis Marin; idéias como controle da difusão e circulação do discurso, buscadas em Michel Foucault; produção do novo a partir das contribuições existentes, tal como pensada por Paul Ricoeur; e a apropriação e transformação cultural, do mesmo modo proposto por Michel de Certeau. As filiações teóricas de Roger Chartier serviram para que os pesquisadores compreendessem a necessidade de mergulhar nas teorias e metodologias da História, na prática dos arquivos, realizando a operação historiográfica proposta por Michel de Certeau. Partindo da observação dos conceitos usados por Roger Chartier, é possível perceber que ele se preocupa com a forma através da qual os indivíduos se apropriam de determinados conceitos. Assim valoriza as mentalidades coletivas. Conceitos como os de utensilagem mental, visão de mundo e configuração têm importância fundamental para o estabelecimento de um diálogo com as fontes. É necessário aprofundar os estudos em torno dos conceitos fundamentais difundidos por esse importante interlocutor dos fenômenos da cultura de um modo geral, buscando um maior conhecimento a respeito das condições de produção da sua obra e das suas ferramentas de análise. O trabalho de Roger Chartier cria condições para que se estabeleça uma nova postura nos estudos da História Cultural diante dos métodos, das fontes e dos temas estudados, buscando, da mesma maneira, nos diversos ramos especializados da História um diálogo mais fértil com a Antropologia, a Sociologia, a Filosofia e a teoria literária.
FONTE: AMARAL, Ieda Ramona do; FARIA, Luciane Miranda. Resenha sobre o livro de Roger chartier: a história cultural entre práticas e representações. In: Revista de Educação Pública, Cuiabá/MT, v. 16, n. 30, p. 183-186, jan.-abr. 2007.
Em sua obra:A HISTORIA CULTURAL ,Roger Chartier argumenta uma preocupação em relação aos que se prendem em conceitos históricos,sem se preocupar em desenvolver e interpretar ao seu tempo e espaço no qual foi disseminado.
ResponderExcluirLogo,chartier é um historiador que vai demonstrar métodos e hábitos diferentes de como devemos entender a historia social,já que ela e totalmente diferente em espaço e tempo.
Chartier atraves do seu livro nos mostra como eh importante o valor das representacoes.E quanto a historia cultural evidencia que em diferetes lugares a realidade social eh construida valorizando assim as mentalidade coletivas.
ResponderExcluirSegundo Chtartier, a História Cultural é importante para identificar o modo
ResponderExcluircomo em diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída, pensada,
dada a ler. Para a vida social, esse campo pode tomar por
objeto as formas e os motivos das suas representações como análise
do trabalho de representação das classificações e das exclusões que constituem as
configurações sociais e conceituais de um tempo ou de um espaço. Porem História Cultural deve ser entendida como o estudo dos processos com os quais
se constrói um sentido, uma vez que as representações podem ser pensadas como
esquemas intelectuais, que criam as figuras graças às quais o presente pode
adquirir sentido, o outros espaço ser decifrado. Como se vê, os processos estabelecidos a partir da História.
um dado aspecto q percebir no livo e a preocupação de chartier em valorizar a respectiva transição de assuntos historicos relacionando-os a sociologia e a antropologia.
ResponderExcluirChartier tende a mostrar através do seu livros que a história social e cultural não vem sendo contada de uma forma a relatar todos os fatos,ou seja, que abranja ao todo, e sim que cada historiador tende a mostrar os fatos seguindo uma linha, que muitas vezes exclui fatos que contribuiram para história. Ao mesmo tempo que ele fala, que deve - se contar a história social e cultural de uma forma que abranja um todo, ele mostra vários autores que representaram a historia em suas várias vertentes e a importância que também possuem, até mesmo para ele chegar a sua conclusão.
ResponderExcluirChartier,vai falar da importância que a história cultural retrata em diversos lugares de forma diferente. Para ele o ser humano tem que entender a história social com muito critério de avaliação, preservando os pensamentos ou mentalidades coletivas.
ResponderExcluirno livro historia cultura de Roger Chartier, os historiadores buscavam uma forma de saber controlado, apoiado com investigações, medidas estatísticas e conceitos teóricos. Esses historiadores acreditavam que o saber inerente à história devia se
ResponderExcluirsobrepor à narrativa.
Em sua obra Chartier esclarece , a importancia para identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída, pensada e dada a ler.
ResponderExcluirA obra mostra a importância de identificar os diferente lugares e momentos das realidades sociais e sua representações , mostra uma preocupação em relação ao conceitos históricos dados a sociedade e sua interpretações no seu tempo e espaço